MEU PAI – SEU PAI - NOSSOS PAIS
(segunda parte)
Antes disso, eu fui seminarista. É verdade! Já quis ser padre um dia! E era vocação mesmo! Minha mãe é do tipo de católica que não freqüenta a igreja; minha avó rezava muito em casa, mas raramente ia à igreja e meu pai era ateu e se dizia comunista. Mas como era um homem com bom nível cultural, tinha muita amizade com alguns padres de um seminário que havia perto de casa. E eu era carola, freqüentava a igreja regularmente, dava aulas de catecismo e queria mesmo ser padre. Nesse ponto meu pai não se opôs. Permitiu e até pagava, pois segundo ele o seminário era o melhor lugar para adquirir cultura.
Já no seminário, eu comecei a tomar aulas de piano e o professor precisava ser pago. Daí, escrevi para os meus pais contando sobre isso e pedindo que me enviassem o dinheiro para as aulas. Ele proibiu. Simplesmente não permitiu que continuasse com minhas aulas e se recusava a pagar o professor. Foi um dos primeiros micos que paguei. Só fui saber porque depois do episódio das aulas de pintura, quando ele me jogou na cara que uma vez eu já havia querido aprender a tocar piano, instrumento de mulheres; e agora estava querendo pintar, coisa de mulherzinha...
Muitas coisas aconteceram entre nós durante os vinte anos em que vivemos juntos! Se fosse contar todas acabaria escrevendo um livro. Mas desde pequenininho, lembro claramente dele espancando a minha mãe. Ele era extremamente ciumento e por qualquer motivo, espancava com gosto. Algumas vezes eu me enfiava no meio dos dois, gritando, desesperado, pedindo que ele parasse com aquilo e acabava apanhando junto com ela. Até o dia em que, já cansada de tanta violência, simplesmente arrumou as malas e foi embora de casa, após uma surra onde ficou toda machucada.
Nessa época eu estava servindo o exército em uma cidadezinha do interior de São Paulo. Quando fui para casa no final da semana, encontrei minha avó me esperando no portão para me contar, chorando, o que havia acontecido. Minha mãe estava na casa de uma tia, procurando uma casa para morar junto com a minha avó. Enquanto isso, ela (minha avó) havia ficado com meu pai, pois queria ela mesma conversar comigo a respeito. Bem, eu não tinha condições de fazer nada, devido ao serviço militar. Então, terminei aquele ano e voltei para casa. Continuei morando com meu pai, arranjei emprego e fui estudar à noite. Pouco tempo depois, minha avó morreu e minha mãe ficou sozinha. Então, conversando com meu irmão, que é mais novo, resolvemos que eu iria morar com a minha mãe e ele, que sempre foi descaradamente o preferido do meu pai, ficaria morando com ele. Assim, cada um deles ficaria com um filho.
Quando fomos conversar com ele a respeito da nossa decisão, ele não nos deixou falar. Apenas disse que, se um dos dois saísse de casa, que esquecesse que tinha um pai. E eu fui morar com a minha mãe! A partir daí, ele nunca mais me recebeu em casa! No mínimo saia, quando eu avisava que iria visitá-lo. Até um dia em que encontrei o portão trancado à chave e a empregada disse não ter permissão de me deixar entrar. Que eram ordens expressas do meu pai que eu nunca mais entrasse naquela casa. Saí Dalí chorando muito, me sentindo humilhado, sem saber o que fazer. Aos poucos fui me acostumando e acabei desistindo de procurá-lo, pois nem ao telefone ele falava comigo.
Já no seminário, eu comecei a tomar aulas de piano e o professor precisava ser pago. Daí, escrevi para os meus pais contando sobre isso e pedindo que me enviassem o dinheiro para as aulas. Ele proibiu. Simplesmente não permitiu que continuasse com minhas aulas e se recusava a pagar o professor. Foi um dos primeiros micos que paguei. Só fui saber porque depois do episódio das aulas de pintura, quando ele me jogou na cara que uma vez eu já havia querido aprender a tocar piano, instrumento de mulheres; e agora estava querendo pintar, coisa de mulherzinha...
Muitas coisas aconteceram entre nós durante os vinte anos em que vivemos juntos! Se fosse contar todas acabaria escrevendo um livro. Mas desde pequenininho, lembro claramente dele espancando a minha mãe. Ele era extremamente ciumento e por qualquer motivo, espancava com gosto. Algumas vezes eu me enfiava no meio dos dois, gritando, desesperado, pedindo que ele parasse com aquilo e acabava apanhando junto com ela. Até o dia em que, já cansada de tanta violência, simplesmente arrumou as malas e foi embora de casa, após uma surra onde ficou toda machucada.
Nessa época eu estava servindo o exército em uma cidadezinha do interior de São Paulo. Quando fui para casa no final da semana, encontrei minha avó me esperando no portão para me contar, chorando, o que havia acontecido. Minha mãe estava na casa de uma tia, procurando uma casa para morar junto com a minha avó. Enquanto isso, ela (minha avó) havia ficado com meu pai, pois queria ela mesma conversar comigo a respeito. Bem, eu não tinha condições de fazer nada, devido ao serviço militar. Então, terminei aquele ano e voltei para casa. Continuei morando com meu pai, arranjei emprego e fui estudar à noite. Pouco tempo depois, minha avó morreu e minha mãe ficou sozinha. Então, conversando com meu irmão, que é mais novo, resolvemos que eu iria morar com a minha mãe e ele, que sempre foi descaradamente o preferido do meu pai, ficaria morando com ele. Assim, cada um deles ficaria com um filho.
Quando fomos conversar com ele a respeito da nossa decisão, ele não nos deixou falar. Apenas disse que, se um dos dois saísse de casa, que esquecesse que tinha um pai. E eu fui morar com a minha mãe! A partir daí, ele nunca mais me recebeu em casa! No mínimo saia, quando eu avisava que iria visitá-lo. Até um dia em que encontrei o portão trancado à chave e a empregada disse não ter permissão de me deixar entrar. Que eram ordens expressas do meu pai que eu nunca mais entrasse naquela casa. Saí Dalí chorando muito, me sentindo humilhado, sem saber o que fazer. Aos poucos fui me acostumando e acabei desistindo de procurá-lo, pois nem ao telefone ele falava comigo.
CONTINUA...
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