11/03/2009

Desejos e Sonhos

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Chegou devagar, olhando demoradamente para a imensidão do mar. Um grupo de crianças brincando com areia e algumas mulheres conversando sobre esteiras estendidas. Mais nada. Sentou-se, tirou as sandálias e ficou curtindo o toque frio da areia úmida em seus pés. Seus olhos perdidos no horizonte não viam a cor do mar, sonhavam com outras paisagens. Seus pensamentos traíam suas feições praticamente imobilizadas. Em uma tarde ensolarada, com os cabelos revoltos pelo vento, suas pernas não conseguiam mais sustentar o corpo cansado de tanto caminhar por uma trilha que cruzava a montanha. Deixou-se descansar uns momentos sobre uma pedra, ao lado de um riacho cantante que rasgava o verde. Seu cantil, quase vazio, saciou sua sede e o lenço marrom secou o suor que umedecia sua testa. Subitamente um som entre todos despertou sua atenção. Eram vozes alegres, um grupo de jovens que chegava. Vinham alvoroçados, desfazendo o encanto daquela solidão escolhida. Garotas e rapazes vinham chegando pela mesma trilha e, com a simpatia dos jovens sorriram, acenaram e se aproximaram do córrego em algazarra. Um deles, mais calado, ficou à margem das brincadeiras, destacando-se pela seriedade. Seu olhar era vago, não se fixando em nada, não mostrando emoções. Sentou-se em outra pedra e ali ficou, absorto em seus pensamentos. Observado sem perceber, o jovem calado mais parecia uma escultura em um jardim. Sua pele clara indicava que não tomava muito sol. Suas mãos delicadas, dedos finos e longos, descansavam, cruzadas, sobre os joelhos. As pernas, libertas pela bermuda, mostravam uma penugem dourada. Os cabelos, castanhos, caíam sobre a testa alta. Enquanto o observava atentamente, seus sentimentos foram enternecendo seu coração e uma sensação desconhecida começou a tomar forma em seu íntimo. Nunca se ligara a rapazinhos, pelo contrário, sempre preferira os homens feitos, adultos experientes. Nem mesmo na mais tenra idade quisera contato com jovens da sua idade. Seu primeiro namorado era pelo menos oito anos mais velho. Mas aquele garoto chamara e fixara sua atenção, não sabia por que. Emanava dele algo especial, como se fosse uma aura, um odor diferente, um som surdo, um ar de entrega. Começou a desejá-lo. Ainda não sabia como, se queria acariciá-lo como um filho, embalá-lo em seus braços, beijar suas faces tão claras. Talvez quisesse extrair daqueles lábios vermelhos um sorriso, ou daqueles olhos profundos um brilho especial. Mas, à medida que analisava seus próprios sentimentos, começou a perceber um desejo mais ardente que aquecia suas entranhas. Gostaria mesmo de envolvê-lo em um abraço sensual, percorrendo sua pele com mãos curiosas, extrair daqueles lábios vermelhos um gemido de prazer, ou daqueles olhos profundos um brilho de amor. Ansiava pelos jogos de sedução, de conquista. Queria sentir seus corpos se fundindo, suas peles se roçando, seus suores misturados entre beijos e carícias sensuais. Desejava aqueles lábios vermelhos percorrendo sua pele, umedecendo e arrepiando sua nuca, extraindo profundos sons de prazer. Desejava aquelas mãos claras de dedos longos, tocando seu corpo como se fosse um instrumento musical, para comporem, juntos, uma sinfonia de amor. Queria a entrega total, os corpos transformando-se em um para, depois de um bailado ansioso, explodir de emoção e prazer. Enquanto sonhava, não notou que o grupo que estava no riacho voltava, chamando o amigo para seguirem caminho, despedindo-se com alegres risadas. Seguiram caminho e, com eles, se foi seu amado, deixando aquela profunda sensação de solidão, aquela angústia de amor não correspondido, de desejo não consumado. Seu corpo quente foi trespassado por um arrepio, como se um enorme vazio engolisse sua alma. Seus olhos, perdidos na trilha que descia até a praia nada mais enxergavam. Nenhum som de vozes ou de risadas se ouvia mais. Apenas os sons de uma mata rala, num fim de tarde, em total solidão. Passado o torpor, resolveu segui-los voltando pela trilha em direção à praia, onde um grupo de crianças brincava com areia e algumas mulheres conversavam sentadas em esteiras.

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