18/02/2009

Eu e o carnaval

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Existem momentos na vida em que a gente conclui que já fez de tudo, experimentou o que teve vontade, curtiu todos os momentos. É aí que percebemos que vivemos uma boa vida, em toda sua plenitude, com um saldo bastante positivo, saldo esse que nos permite decidirmos apenas fazer aquilo que realmente tivermos vontade daí para a frente.

É o meu caso com relação ao carnaval. Quando jovem, fui a todos os bailes que quis, dancei em clubes e também nos blocos de rua. Com ou sem namorada, não faltavam as imprescindíveis companhias femininas para alegrar ainda mais minhas festas. Aliás, naquela época o carnaval era mesmo uma grande festa, com pouquíssima violência, onde as drogas pesadas, se existiam, eram usadas discretamente. Nos salões imperavam as grandes orquestras, com seus metais e crooners, que, além da animação dos foliões, garantiam um show de interpretação para os que, cansados, ficavam em suas mesas bebericando, namorando ou simplesmente curtindo a grande festa de alegria.

Havia o que se chamava de “guerra de serpentinas e confetes”, com aquelas atravessando o salão, cruzando-se sobre nossas cabeças. O confete era como chuva miúda e colorida, que invadia até mesmo as mais íntimas partes do vestuário. Era comum, no dia seguinte, encontrar confetes colados nas cuecas, dentro dos sapatos, no meio dos cabelos. Havia o lança perfume, depois proibido, mas que era borrifado nos outros foliões, deixando aquela sensação geladinha na pele. Algumas pessoas costumavam espirrar discretamente nos lenços e aspirar, mas era coisa pequena perto do que fazem os foliões de hoje, com drogas muito mais pesadas.

Nas ruas, a alegria era geral. Blocos desfilavam, aplaudidos pelas famílias que ficavam nas calçadas, velhos, adultos, crianças, todos se divertindo em comunidade. Havia poucas escolas de samba, mas onde passava uma, era um espetáculo inesquecível, com seus carros alegóricos e suas fantasias mais elaboradas. Os foliões se preparavam o ano inteiro para, nos dias de carnaval apresentar o seu espetáculo para o povo, sem disputas, sem premiações.

Isso tudo mudou, já nem sei se existem os bailes em clubes, como antigamente. Os blocos continuam, mas hoje, muitos dos foliões estão bêbados ou drogados, a evolução é em ritmo mais frenético, conforme os tempos atuais. As escolas estão reguladas, apresentam-se em sambódromos, têm tempo certo para percorrer o espaço determinado e objetivando a primeira colocação. Muitos torcedores (antes, foliões) nem aceitam um segundo ou terceiro lugar, como se isso fosse caso de honra, de vida ou morte. A apresentação das escolas, especialmente no Rio e em São Paulo, transformou-se num grandioso espetáculo. Belíssimo, reconheço. Mas sem a poesia e o lirismo de antigamente.

Existem os carnavais de outros estados, de outras regiões, com suas características próprias. Infelizmente, sobre eles nada posso dizer, por não conhece-los, por não ter tido a felicidade de curti-los. Conheço apenas os do Rio e os de São Paulo. E o daqui de Paraty, que já foi muito melhor. Hoje, nem escola de samba temos mais. Apenas alguns blocos que fazem a alegria do povo.


Por tudo isso, hoje sou mais de me divertir com a alegria alheia. Gosto de ver os desfiles das escolas de samba pela TV, embora seja cansativo ficar uma noite inteira no sofazão. Adoro ir ao Sambódromo, mas infelizmente não é toda vez que posso fazer essa estravagância. Mas gosto mais como espetáculo do que propriamente como carnaval. Claro que o carnaval está inserido no contexto, mas não vou participar da festa, vou ver e sentir o “maior espetáculo da Terra”.


Então, meu programão no carnaval é perambular pelas ruas de Paraty, me divertindo com os blocos de fantasias, de crianças e de bonecos que alegram a cidade e, no sábado de carnaval, não perco o “Bloco da Lama”, onde centenas de pessoas se enlameiam num local de lama negra e saem sujos e enfeitados com galhos, chifres, tecidos grosseiros e tacapes, num espetáculo único e belíssimo em seu conjunto.

Como vê, não preciso de mais do que isso. Já curti muito o reinado de Momo, hoje, quero mais tranquilidade, alguma diversão e muita, muita companhia, bons papos, boas risadas com os amigos. Essa é minha grande diversão no carnaval.



Lembrete



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