12/02/2009

Trio


Ele a olhava enquanto ela puxava o zíper do vestido lilás e virava-se lentamente. Ele a olhava pelo espelho daquele quarto de motel onde, momentos antes, haviam se tocado intimamente, entre frases entrecortadas de gemidos.
Ele disse que o vestido era muito bonito e ela, com uma mesura zombeteira, agradeceu enquanto se sentava na beirada da cama para deslizar as meias de seda pelas pernas torneadas, antes de calçar os sapatos com saltos altíssimos. Com sua maquiagem leve e o batom vermelho, ela parecia ainda mais bonita. Seus gestos firmes mostravam uma mulher decidida e moderna, que não se importava em sair sozinha do motel, deixando o homem com quem estivera, nu no quarto. Ele puxou sua cabeça e, com cuidado para não estragar o batom, beijou-a levemente nos lábios.
Ao lado da cama, sobre a mesinha de cabeceira, duas taças de cristal de segunda continham restos de champanhe. Ao lado das taças, o relógio de pulso dele, os óculos, chaves e a carteira de documentos. Numa cadeira, o jeans desbotado e uma camisa jogada displicentemente. A cueca estava no chão, ao lado dos sapatos mocassim.
Ela se levantou, balançou de leve a cabeça para soltar melhor os cabelos e, com as mãos, alisou a seda do vestido sobre o corpo sinuoso. Olhou-o e riu. Apanhou a bolsa, virou o corpo diante do espelho mais uma vez e, satisfeita com o resultado, acenou e saiu. No ar, pairava ainda o seu perfume levemente apimentado.
Ele se deixou ficar sobre os lençóis revolvidos, pensando ainda nos momentos de prazer que tivera há tão poucos minutos. Esses pensamentos provocaram-lhe uma leve excitação e suas mãos começaram a acariciar o falo endurecido. Aos poucos, o prazer foi tomando conta do seu corpo até esvair-se em uma erupção espalhada sobre seu abdômen.
Ele se levantou lentamente e dirigiu-se ao banheiro. Após a ducha, voltou para o quarto e começou a vestir-se. Era necessário que retornasse à sua casa, à sua família, à sua vidinha comum.
Ao dobrar a esquina da rua em que morava já viu sua esposa parada junto ao portão, trocando fofocas com as vizinhas. A cabeça, aumentada pelos bobs e um lenço colorido, era dividida por um nariz longo que diminuía ainda mais os lábios finos. Os olhos, miúdos, pareciam fechados por trás das grossas lentes dos óculos que teimavam em escorregar sobre a pele oleosa do nariz. As orelhas, escondidas pelos bobs, ele sabiam que eram grandes como asas. Nenhuma beleza, nenhum encanto, nenhum dom especial distinguia aquela mulher, cujo corpo volumoso exibia fartos seios que combinavam com o traseiro enorme.
Quando se aproximou do portão, as vizinhas os olharam com olhos de cobiça e nem se deram ao trabalho de esconder os sorrisos de sedução e os gestos coquetes com que procuravam ajeitar os cabelos ou alisar os vestidos caseiros. Ele sabia ser ainda um belo homem, no auge de sua masculinidade madura. Já ela, deixava-se embarangar a olhos vistos. Mesmo sendo impossível uma comparação, a “outra” ganhava disparado em charme, elegância, sedução. Ao contrário desta, ela seguira uma carreira profissional, se mantinha a par dos assuntos do momento e era capaz de discutir de política a economia, de moda a gastronomia. Sua esposa mal sabia dos assuntos do fogão ou da novela das nove.
Cumprimentou as vizinhas, recebeu um arremedo de sorriso da esposa e entrou para mais uma noite morna em frente à TV.
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